Engraçado. Tenho pensado constantemente nisso nos últimos tempos.
Quando cursei uma disciplina doProfessor Dr. Rodrigo Vivas, no fim de 2012, fui apresentado a um texto de Yve-Alain Bois, que releio agora para preparar uma aula de uma disciplina nova. Trata-se de uma introdução à análise da pintura que debate algumas tentações e chantagens que o ramo científico, por vezes, apresenta. Ouso simplificar seus dizeres e resumi-lo à resistência das seguintes chantagens (entre outras):
- Teorismo
- Antiteoria
- Moda
A primeira é aquela em que o pesquisador “adere” cegamente a uma teoria, sem base suficiente para avaliar suas nuances, como se fosse uma verdade absoluta; um dogma. A segunda é aquela em que, visto que a teoria idolatrada é incapaz de resolver a todos os mistérios, chega-se à conclusão de que ela não vale mais NADA e que é melhor deixá-la de lado. A terceira tem a ver com o processo cíclico que isso gera: ama-se uma teoria; refuta-se em seguida, idolatrando outra. Em cada momento, uma teoria (ou corrente) será a bola da vez.
Este processo se repete não apenas na análise pictórica ou na história da Arte, mas também no design e – PASMEM – na comunicação de modo geral. Quer exemplo?
Marketing digital
Em 2009, o Twitter encontrava o seu mais acelerado crescimento, encontrando o ápcie em 2010. Hoje, praticamente amarga o ostracismo (especialmente no Brasil). A curva decrescente do Facebook mostra que seu caminho não será diferente. O mesmo vale para várias teorias de SEO, SEM e produção de conteúdo.
Design
Até uns anos atrás, quanto mais complexo o projeto, melhor. Flash na internet, movimento adoidado nos sites… cores, nuances, texturas. Brilhos e reflexos eram o AUGE em 2006-2007! Hoje, abre-se mão completamente dos elementos visuais considerados “secundários” (totalmente supérfluos) em função única e exclusivamente da funcionalidade (como se o êxtase visual não fizesse parte da função da coisa!). O iOS 7 e a modinha (isso mesmo: MODINHA) do “flat design” estão aí para comprovar isso.
Ter me deparado com este texto do Luciano Cassisi me deixou muito feliz porque me mostrou que não estou sozinho na minha aflição. Nem “menos é mais”, nem o contrário. Cada detalhe tem sua função. Não precisa abandonar o Twitter! Não precisa abandonar o Facebook! Ora, até mesmo o Orkut ainda tem uso, se for o produto certo para o público adequado!
Não ficou para trás o tempo da pintura figurativa! Não ficou para trás a poesia concreta! Não precisam deixar de existir os comerciais de exibição de produto (e “antes” e “depois”) para dar lugar aos story-tellings! Não precisa fazer TUDO em flat design!
Tem lugar para tudo isso, desde que usado sabiamente e dentro do contexto apropriado.
O fato é que cada caso é um caso. É preciso conhecer a fundo o público, o contexto, a teoria. E, mais do que nunca, é preciso dominar os recursos. Senão, seja lá o que for, não vai passar de “modismo”, superficial e barato (modismo, notem bem, é diferente de moda: um é ridículo e efêmero, a outra é um dos fenômenos culturais mais intrigantes de todos os tempos).
O resumo da ópera é que nada tem que ser “preto no branco”. Há lugar para meios termos e nuances. Um coisa não acaba com a outra, mas soma-se. Multiplica-se. E deve-se saber usar com parcimônia.