Desde a retomada das aulas (ainda remotas) no início de agosto eu tenho desenhado cada vez menos. Após emendar um projeto no outro – “As aventuras de Letícia” e depois “Mandinga”, tenho um Samurai Boy para fechar e quase não consigo colocar a mão.
Tenho ideias para cursos, aulas, vídeos, outros projetos, novas HQs, em novos formatos. Mas o dia-a-dia de professor me impede de levá-los a termo neste momento.
Eu sei que é temporário. Mas tenho sentido a mão literalmente coçar. Me pego solfejando traços no ar (ou na mente) com uma frequência enorme. Fico imaginando como resolver graficamente essa ou aquela forma, cor, linha, representação. E, por mais que seja frustrante não poder pegar em papel e lápis (ou caneta e tela) para colocar em prática, é também excitante tomar consciência desses processos mentais.
Três semanas de, no máximo, alguns retoques em uma página ou outra (mais para satisfazer minha abstinência do que por necessidade técnica da composição). E de criar cenas inteiras na cabeça de uma HQ que jamais verá a luz do dia.
Três semanas de mão coçando, sentindo a falta da caneta como se fosse um membro fantasma que se foi, amputado pelo calendário letivo.
E olhe que eu amo dar aulas.
Mas são três semanas sem um dia sequer com três horas consecutivas disponíveis para rabiscar.
Três semanas de saudade.
Saudade de desenhar.